Complexidade
Além disso, você precisará saber mais sobre o assunto.
APRENDA COM A EXPERIÊNCIA, APRENDA A PENSAR: O RAMAIN
Além disso, você precisa saber mais sobre o assunto.
A educação baseada no desenvolvimento de uma atitude crítica é a possibilidade mais efetiva, acreditamos, para que o nexo ciência-conhecimento não apenas caracterize a elite intelectual de uma sociedade, mas que ciência e conhecimento sejam a aposta de seres que, engajados em uma processo de integração, produzir o movimento necessário à expansão individual e social, valorizando o desenvolvimento do aprender a aprender, do aprender a pensar.
Tendo observado as dificuldades do ser humano em ser criativo em situações de pressão ou frustração, ou em agir com serenidade e lucidez em situações adversas, desagradáveis ou desconhecidas, Simonne Ramain considerou que existia uma limitação na 'utilização dos recursos internos dos indivíduos , e atribuído à rigidez mental o elemento desencadeador de respostas repetitivas, estereotipadas, fragmentadas, que não levam em conta a totalidade das situações, o que caracteriza um contato fragmentado e não flexível com o ambiente.
Por uma reação defensiva à imprevisibilidade, o sujeito tende a considerar conhecido o desconhecido, atribuindo assim à nova realidade o que poderia aceitar que ela é, sem se desequilibrar. É assim que o sujeito altera seu contato com a realidade, caracterizado pela singularidade de cada momento, do aqui e agora.
Para Simonne Ramain, a plasticidade das percepções e a mobilidade mental que permitiriam ao sujeito viver seu todo de forma livre e engajada ao mesmo tempo, estariam impedidas de se atualizarem em uma rica resposta à realidade. Segundo suas hipóteses, esse aspecto restritivo do contato do sujeito consigo mesmo e com seu meio poderia ser modificado na medida em que fosse possível desencadear um processo de mobilidade mental em que, a partir de um ou mais elementos conhecidos, o sujeito poderia recompô-los. em uma nova configuração. Seria uma resposta ligada aos elementos anteriores e ainda inovadora. Nessas condições, não há ruptura entre a situação anterior e a atual, mas apenas a diferença que surge na modificação de um processo contínuo, relacional e, portanto, facilitador de respostas adaptadas a uma realidade em se tornar.
Simonne Ramain, sempre atenta a este contínuo processo de modificações que se reflecte na efémera das situações, a partir de uma incessante investigação sobre si própria e sobre o seu ambiente ao expandir as suas experiências, desenvolveu uma metodologia baseada na complexidade do funcionamento psíquico, partindo em particular a partir dos conceitos de globalidade, diversidade e mobilidade mental.
Todos os exercícios que compõem um arquivo têm uma característica fundamental: assim que são propostos, ou seja, o material necessário para a realização é fornecido a cada participante do grupo e que o facilitador formula o enunciado de sua proposta, esse conjunto adquire imediatamente as características de uma situação, ou seja, a interação das relações entre sujeito-exercício-facilitador e não a tarefa a ser realizada.
O exercício proposto será complexo, análogo à complexidade das situações de vida, onde todos no grupo, como na vida, precisam buscar seus caminhos, suas respostas, ao mesmo tempo em que vivem todas as incertezas que esta pesquisa acarreta. Mesmo que o exercício contenha uma tarefa, ele é desprovido de qualquer caractere finalizado. O compromisso que se busca criar em relação à proposta reflete-se na importância dada ao processo e não ao resultado em si.
Toda a solicitação feita ao sujeito busca, em primeiro lugar, criar em seu interior um movimento, uma preocupação. O processo de elaboração, de criação de uma nova resposta não se dá por um acréscimo à já conhecida, mas pela impossibilidade de se usar uma resposta conhecida, que não responderia adequadamente à configuração proposta. O processo de desajustamento criado no início de cada exercício torna possível o trabalho de elaboração mental, o ato de criação.
Ver-se nesse contexto e sentir-se convidado a vivê-lo já é fundamentalmente uma situação que exige um esforço de compreensão, imaginação e realização dentro do sujeito; uma percepção que leva à descoberta, à ação.
A quebra de estereótipos mentais e a ampliação do processo perceptivo decorrem em parte de um instrumento lingüístico fundamental: todos os exercícios são oferecidos por meio de um enunciado, às vezes acompanhado de um texto ou de uma folha modelo. É esta declaração verbal que chamamos de "instruções"
“A instrução delimita o campo da pesquisa ao afirmar, muitas vezes, ou o ponto de partida e o ponto final sem formular os meios a serem utilizados, ou o ponto de partida e os meios de realização, sem pressupor um resultado que será a criação de cada um. »(Germain Fajardo).
Cada instrução propõe, através de coordenadas linguísticas organizadas, a consideração simultânea de diferentes qualidades, de diferentes quantidades, relacionando-se com outras variáveis localizadas pelas coordenadas adverbiais de tempo, espaço, modo, intensidade, etc. segundo referências precisas, ou por estimativa , de forma a delimitar o campo de ação por uma variedade de coordenadas propostas em uma linguagem rica. Eles são estruturados para corresponder precisamente a um resultado real. Ou seja, propomos que o enunciado corresponde a um fato x, uma resposta elaborada pelo sujeito. Propõe-se, portanto, uma correspondência coerente entre frase e fato, entre palavra e objeto, entre instrução e resultado.
Cada proposição mobiliza a criação de imagens mentais que, dinamicamente, ao serem transpostas em uma ação concebida como relevante para o que foi imaginado, se configurarão como um resultado correspondente ou não à instrução.
Não é o resultado em si que se valoriza, mas a vivência de todo o processo de busca desse resultado em um jogo interativo contínuo entre o que foi imaginado a partir do simbólico e o que foi alcançado na operativa. É a possibilidade de discriminar, de buscar e buscar, que será trabalhada para que, por meio dela, o sujeito consiga caracterizar o objeto, levar em conta os diversos fatores heterogêneos que constituem a realidade para considerar o maior número de parâmetros possíveis, por isso as situações propostas são sempre diferentes.
O sujeito deve pesquisar sobre si mesmo para poder discriminar em todas essas diversas situações e nesse processo de reconhecimento de características; os sentidos serão amplamente utilizados sem privilegiá-los em si mesmos, pois estarão sempre a serviço da elaboração. Esse refinamento perceptivo está relacionado à crítica que o sujeito faz aos seus próprios meios; é assim que se desenvolve a capacidade perceptiva a serviço da elaboração. A questão fundamental sempre será a de criar um processo para se chegar a um resultado e, na falta disso, poder reformular o processo.
Cada proposição, em particular pelos seus valores adverbiais, requer uma atenção permanente do sujeito, porque não se trata de acrescentar um elemento de enunciado aos outros nem de o levar em conta sucessiva ou separadamente, mas de lançar um novo resposta, atual e inédita, como um ato de criação que emerge da pesquisa e da disponibilidade interna.
MARIA-CLARA NASSIF
São Paulo-Paris, janeiro de 1994